Nossos Corpos nos pertencem?

Você já parou para pensar de onde vem a palavra “anomalia”? Geralmente, quando estamos estudando genética essa palavra aparece nos exemplos de genes que passaram por um processo de mutação gerando algo novo e fora da “normalidade”.

Mas por que uma forma é considerada normal e a outra uma anomalia? Você já parou para pensar se os cientistas que classificaram algumas das características humanas como “anomalia” ou “inferior” tinham essas características? Você acha que se eles/elas tivessem essas características seria dado o nome de anomalia ou inferioridade?

Figura 3: Obra História¿natural? Da artista Rosane Paulino.

Obra História¿natural? Da artista Rosane Paulino

Fonte: Página da artista Rosane Paulino, 2016.

Através de uma série de obras denominada Assentamento, que remete à escravidão justificada pela inferioridade da raça, a artista Rosane Paulino questiona o papel das ciências na produção de teorias racistas e de higienização, indagando o uso de corpos não-brancos, especialmente de mulheres negras, nas pesquisas científicas e na construção de estereótipos do que é um corpo normal e anormal.

Supondo que os pesquisadores compreendiam o corpo branco e masculino como referência da “normalidade” para as pesquisas científicas, fica evidente que qualquer característica diferente desse corpo era visto como anormalidade, o que parece absurdo, mas foi dessa maneira que a ciência europeia construiu no pensamento científico a ideia do que é normal e do que é anormal.

Um exemplo disso foram as pesquisas realizadas no corpo de uma mulher negra chamada Saartjie Baartman, a Vênus Negra, que por ter as nádegas protuberantes foi classificada como portadora de uma anomalia pelos cientistas da época. Além disso, a partir dos estudos realizados no corpo de de Saartjie, o naturalista Georges Cuvier protocolou o uso do termo raça na ciência moderna no início do século XIX.

Figura 1: Caricatura de Saartjie sendo investigada por cientistas.

Caricatura de Saartjie sendo investigada por cientistas

Fonte: Página Blogueiras Negras, 2015.

Nesse período, a utilização de corpos-não brancos como material de pesquisa, inclusive sem o consentimento dessas pessoas, era uma prática comum na pesquisa, o que nos permite acreditar que a ciência ocidental e suas pesquisas com corpos humanos exercem um papel central na marginalização, coisificação e desumanização de corpos não-brancos.

Dessa maneira, compreender que toda ciência é produzida por pessoas, e que, portanto, é uma prática social que pode ser influenciada por questões raciais, de gênero e classe, é essencial para se ter uma visão crítica da produção científica, compreendendo seus aspectos éticos e não a assumir como verdade absoluta.

Para saber mais sobre esse tema deixamos uma sugestão de livro para você aprofundar seus conhecimentos.

Livro: SKLOOT, Rebecca. A vida imortal de Henrietta Lacks. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 464p.

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