AS MAIS BRABAS DO RAP ATUAL: AS GÊMEAS TASHA E TRACIE

Quando pensamos no rap nacional, várias vezes nos lembramos de grupos e pessoas como Racionais MC’s, Djonga, Emicida, Xamã, Sabotage, MV Bill e inúmeros outros. É comum nos recordarmos de nomes masculinos que, de uma forma ou outra, fizeram o estilo alcançar a popularidade como um dos mais ouvidos e apreciados no Brasil. No entanto, é preciso desmistificar que o rap é composto somente por homens, pois muitas artistas estão fazendo história e alcançando o seu espaço no cenário musical. Há muitas minas consolidadas enquanto compositoras, performances e produtoras que, de forma criativa, demonstram que as garotas podem ser o que elas quiserem. 

Esta é uma conversa longa! Então, prepare-se porque vamos começar o nosso papo sobre “As mais braba” do rap atual: as gêmeas Tasha e Tracie.

Tasha e Tracie Okerere, 26 anos, trabalham desde muito novas. Ambas já foram vendedoras ambulantes e de shopping e há tempos moram sozinhas e se sustentam. O trampo que as fez chegar ao grande público foi no ramo da moda: o Expensive $hit, nome inspirado no álbum de 1975 do cantor Fela Kuti. Tudo começou com um blog de mesmo nome no qual elas postavam fotos com as roupas que produziam. A proposta foi ensinar como customizar peças com pouco dinheiro, uma vez que a maioria dos blogs de moda era voltada para quem já tinha instrumentos para confeccionar suas vestimentas. Elas ganhavam doações e transformavam cada roupa em peça única. Nesse período, Tasha e Tracie já frequentavam a Batalha do Santa Cruz e foi lá que a rapper Drik Barbosa incentivou a divulgação do trabalho de moda delas. 

Deu tudo tão certo que em 2015 elas ganharam destaque internacional por serem as únicas brasileiras a saírem no portal norte-americano Afropunk com o Expensive $hit. Nessa mesma época, Tasha e Tracie foram chamadas para fazer publicidade, consultoria, palestras e campanhas para marcas famosas. E olha que a criatividade das duas não parou por aí não! Pensando em fazer discussões sobre autonomia financeira e intelectual, cultura e autoestima negra/periférica, as gêmeas criaram o MPIF – Mulheres Pretas Independentes de Favela. 

Já conseguiu perceber o porquê dessas novinhas serem requisitadas, né? 

Tasha e Tracie também começaram a desenvolver atividades culturais no bairro do Peri, na Zona Norte de São Paulo. Este projeto surgiu por causa da indignação de ter de se deslocar ao centro da cidade para experienciar a cultura negra. Embora os eventos tenham parado um pouco devido à pandemia de covid-19, eles foram um enorme sucesso porque além delas tramparem como produtoras e DJs, houve uma grande divulgação de artistas bem como a captação de recursos e doações para a população local. 

Na caminhada longa das gêmeas, a música, principalmente o rap, serviu de trilha sonora e base de criatividade. Desde cedo, elas escutavam de tudo graças à influência dos pais – um nigeriano e uma brasileira. Todo este repertório pode ser percebido nas composições delas que retratam amizade, beleza, criatividade, sexualidade e deboche, tudo sob a perspectiva de jovens negras e faveladas. É só rajadão!

Depois de inúmeros singles, em 2021 as gêmeas lançaram o álbum Diretoria, com o selo da produtora e gravadora CEIA, que traz rap, funk, trap e tudo o que elas mesmas gostariam de ouvir. Nas letras é possível perceber o que elas passaram para chegar aonde estão e, com todas as dificuldades, nunca desistiram. É um tremendo sucesso e demonstra que, mesmo sendo novas, os passos delas vêm de longe! Inclusive, você sabia que em uma das músicas delas pode-se aprender física? Pois é, elas entregam tudo!