RACISMO AMBIENTAL

(3) Investigar situações-problema e avaliar aplicações do conhecimento científico e tecnológico e suas implicações no mundo, utilizando procedimentos e linguagens próprios das Ciências da Natureza, para propor soluções que considerem demandas locais, regionais e/ou globais, e comunicar suas descobertas e conclusões a públicos variados, em diversos contextos e por meio de diferentes mídias e tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC).

(1) Compreender o funcionamento das diferentes linguagens e práticas culturais (artísticas, corporais e verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias, para ampliar as formas de participação social, o entendimento e as possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade e para continuar aprendendo.

(EM13CNT305) Investigar e discutir o uso indevido de conhecimentos das Ciências da Natureza na justificativa de processos de discriminação, segregação e privação de direitos individuais e coletivos, em diferentes contextos sociais e históricos, para promover a equidade e o respeito à diversidade; 

 

(EM13LGG102) Analisar visões de mundo, conflitos de interesse, preconceitos e ideologias presentes nos discursos veiculados nas diferentes mídias, ampliando suas possibilidades de explicação, interpretação e intervenção crítica da/na realidade;

(EM13LGG103) Analisar o funcionamento das linguagens, para interpretar e produzir criticamente discursos em textos de diversas semioses (visuais, verbais, sonoras, gestuais);

(EM13LGG104) Utilizar as diferentes linguagens, levando em conta seus funcionamentos, para a compreensão e produção de textos e discursos em diversos campos de atuação social.

Racismo e justiça ambiental: o que são e o que podemos fazer?

Nos últimos tempos, temos assistido aos desdobramentos de uma crise ambiental que se encontra em seu auge. São questões como os aumentos das queimadas, do garimpo ilegal e do ponto de não retorno da Floresta Amazônica, assuntos estampados nas manchetes de jornais nacionais e internacionais. Quando falamos de tal crise, é importante compreendermos o contexto de sua produção e suas consequências para os ecossistemas e para as populações humanas. Por isso, nesse capítulo serão discutidos como a crise do meio ambiente tem afetado de forma desigual diferentes grupos sociais e como os mesmos vêm denunciando e reivindicando políticas públicas que objetivam a justiça ambiental. Sugerimos que o conteúdo seja desenvolvido em duas aulas.

Contextualização teórica

A intervenção antrópica no meio ambiente se intensificou de forma profunda após a Revolução Industrial. Desde então, atividades de grande impacto, como o desmatamento e a emissão de gases do efeito estufa, aumentaram de forma exponencial. No entanto, assim como o desenvolvimento industrial, os impactos gerados pela devastação do meio ambiente não são os mesmos pelo mundo afora. A constatação dessa desigualdade nos leva ao conceito de injustiça ambiental, que nomeia o processo através do qual a maior parte dos danos ambientais resultantes do desenvolvimento econômico afeta grupos sociais de trabalhadores, populações de baixa renda, grupos raciais discriminados, populações mais vulneráveis e marginalizadas. Em resposta aos problemas dessa forma de injustiça, movimentos sociais passaram a reivindicar a necessidade de justiça ambiental. Essa noção supõe que nenhum grupo de pessoas deve suportar de forma desproporcional as consequências ambientais negativas de operações industriais e comerciais, de políticas institucionais, bem como as consequências da ausência dessas políticas.

Historicamente, o movimento de justiça ambiental nasceu nos Estados Unidos da América a partir da mobilização de pessoas pobres e negras que estavam mais expostas a riscos ambientais por morarem nas vizinhanças de depósitos de lixos químicos, radioativos e de indústrias poluentes. Junto aos movimentos sociais surgiu, também, a área acadêmica da Justiça Ambiental.

Professor(a), leia a seguinte reportagem do portal Alma Preta: https://almapreta.com/sessao/cotidiano/bahia-terreiro-denuncia-racismo-ambiental-em-lauro-de-freitas.

Perceba que, nesse caso, a injustiça ambiental atinge um grupo racial específico: uma comunidade negra religiosa. Nesse contexto, ocorre o que chamamos de racismo ambiental, ou seja, há injustiças que afetam desproporcionalmente grupos raciais historicamente subalternizados. Note como essa comunidade negra está sendo prejudicada: uma grande quantidade de lixo, que não é produzida pelo grupo, é despejada em seu território, causando poluição visual e olfativa, gerando proliferação de doenças e dificultando a circulação de pessoas.

Figura 1: Marcha pelo clima na cidade de Takoma, EUA, em 2017. O cartaz da jovem diz “Justiça ambiental para todos”

Relevância em sala de aula

Problemas como acúmulo de lixo, falta de água, ambientes sanitariamente vulneráveis são comuns nas periferias das grandes cidades, isto é, a injustiça e o racismo ambiental estão presentes no dia a dia dos jovens. Desse modo, é importante que os alunos compreendam esse fenômeno a partir de uma análise crítica que os torne capazes de reivindicar e tomar atitudes social e politicamente éticas em relação ao meio ambiente.

Objetivos

Ao final das aulas, os alunos devem ser capazes de compreender os conceitos de injustiça ambiental, racismo ambiental e justiça ambiental, bem como conseguir identificar casos cotidianos em que estas temáticas aparecem.

Preparando as aulas

Professor(a), para conduzir as aulas seguintes, é fundamental que você tenha compreendido os conceitos de injustiça e justiça ambiental, bem como de racismo ambiental. Além disso, é importante que você se familiarize com exemplos desses processos que estão presentes no cotidiano dos estudantes. A seguir, há uma sugestão de abordagens para a condução do tema em duas aulas, sendo necessário ter computador e projetor para apresentar músicas e vídeos.

Introdução

Professor(a), inicie a aula utilizando a música Chuva Ácida, do rapper Criolo

https://www.youtube.com/watch?v=F_baCPBeWNk.

Destaque, juntamente com os estudantes, o tema principal do texto e questione a opinião deles em relação aos sentidos da letra.

Desenvolvimento

Pergunte aos alunos se eles vivem problemas como os mencionados na canção. Cite exemplos comuns nas periferias brasileiras, tais como falta de água ou fornecimento de água suja, ausência de saneamento básico, acúmulo de lixo, rios e córregos poluídos. Faça um debate com os estudantes para compreender se esses problemas são comuns a todas as pessoas e, ao partir do mesmo, introduza as noções de injustiça e justiça ambiental.

Encerramento

Peça aos estudantes que tragam na aula posterior um levantamento dos principais problemas ambientais que o bairro deles enfrenta. Oriente-os a perguntar às pessoas e a observar problemas ambientais na vizinhança. Finalize com a música Nos barracos da cidade, de Gilberto Gil, e destaque como as injustiças ambientais estão incluídas em um contexto maior de desigualdade a que as periferias do país estão sujeitas.

Introdução

Inicie pedindo um retorno dos estudantes quanto ao levantamento que fizeram sobre seus bairros. Debata com eles sobre os problemas mais comuns.

Desenvolvimento

Exiba o vídeo Racismo ambiental por Eliete Paraguassu, marisqueira e quilombola da Ilha de Maré – Salvador/BA,

A partir da fala de Eliete, destaque, junto aos estudantes, que a marisqueira retrata um tipo de injustiça ambiental que atinge um grupo específico: as pessoas negras da Ilha de Maré. Introduza a noção de racismo ambiental. Enfatize que as injustiças ambientais que afetam as periferias brasileiras podem ser consideradas racismo ambiental, uma vez que essas áreas são, majoritariamente, povoadas por pessoas negras.

Encerramento

Apresente o vídeo Você sabe o que é racismo ambiental? do Canal Preto

 

Destaque que o racismo ambiental também atinge as populações indígenas brasileiras. Como exemplo, você pode utilizar a contaminação por mercúrio dos indígenas yanomami:

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2022/06/06/rios-na-terra-yanomami-tem-8600percent-de-contaminacao-por-mercurio-revela-laudo-da-pf.ghtml.

. Finalize ressaltando como é importante compreender os processos de injustiça ambiental para reivindicar e tomar atitudes responsáveis que podem mudar as comunidades onde os alunos vivem.

Professor(a), para aprofundar seus estudos, confira os seguintes textos:

BELMONT, Mariana. O racismo ambiental chegou com as caravelas dos colonizadores europeus. 2022. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/mariana-belmont/2022/09/09/o-racismo-ambiental-chegou-com-as-caravelas-dos-colonizadores-europeus.htm. Acessado em 13 de setembro de 2022.

RODRIGUES, Paula. Movimento negro e indígena pede justiça climática. Você sabe o que é isso? 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2021/11/09/movimento-negro-e-indigena-pede-justica-climatica-voce-sabe-o-que-e-isso.htm. Acessado em 13 de setembro de 2022.

ROSÁRIO, Fernanda. O que é racismo ambiental e como contribui para a retirada de direitos no Brasil. 2021. Disponível em: https://almapreta.com/sessao/cotidiano/o-que-e-racismo-ambiental-e-como-contribui-para-a-retirada-de-direitos-no-brasil . Acessado em 13 de setembro de 2022.

SOUZA, Arivaldo Santos de. Direito e racismo ambiental na diáspora africana: promoção da justiça ambiental através do direito. Salvador: Edufba, 2015. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/35662. Acessado em 13 de setembro de 2022.

CRIOLO. Chuva Ácida. São Paulo: Oloko Records, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=F_baCPBeWNk. Acessado em 04 de novembro de 2022.

GIL, Gilberto. Nos barracos da cidade. Rio de Janeiro: Warner Music Brasil, 1985. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IW4pAwf1cDo. Acessado em 04 de novembro de 2022.

HERCULANO, Selene. “O clamor por justiça ambiental e contra o racismo ambiental”. Interfacehs: Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, São Paulo, v. 3, n. 1, p. 1-20, jan. 2008. Disponível em: http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/wp-content/uploads/2013/07/art-2-2008-6.pdf. Acessado em 13 de setembro de 2022.

LOBO, Flavio. Desequilíbrio da Amazônia se aproxima do ponto de não retorno. 2022. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/cts/pt/central-de-conteudo/noticias/noticias/304-desequilibrio-da-amazonia-se-aproxima-do-ponto-de-nao-retorno. Acessado em 04 de novembro de 2022.

“RACISMO ambiental por Eliete Paraguassu, marisqueira e quilombola da Ilha de Maré – Salvador/BA”. S.I.: Cumulus Tv, 2020. (7 min.), son., color. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EFqY8a4l5qc . Acessado em 04 de novembro de 2022.

RAMALHO, Yara; OLIVEIRA, Valéria; MARQUES, Marcelo; ABREU, Luciano. Rios na Terra Yanomami têm 8600% de contaminação por mercúrio, revela laudo da PF. 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2022/06/06/rios-na-terra-yanomami-tem-8600percent-de-contaminacao-por-mercurio-revela-laudo-da-pf.ghtml. Acessado em 22 de setembro de 2022.

ROSÁRIO, Fernanda. Bahia: terreiro denuncia racismo ambiental em Lauro de Freitas. 2022. Disponível em: https://almapreta.com/sessao/cotidiano/bahia-terreiro-denuncia-racismo-ambiental-em-lauro-de-freitas. Acessado em 13 de setembro de 2022.

ROSÁRIO, Fernanda. Bahia: terreiro denuncia racismo ambiental em Lauro de Freitas. 2022. Disponível em: https://almapreta.com/sessao/cotidiano/bahia-terreiro-denuncia-racismo-ambiental-em-lauro-de-freitas . Acessado em 04 de novembro de 2022.

SOUZA, Arivaldo Santos de. Direito e racismo ambiental na diáspora africana: promoção da justiça ambiental através do direito. Salvador: Edufba, 2015. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/35662. Acessado em 13 de setembro de 2022.

Você sabe o que é RACISMO AMBIENTAL? – Canal Preto. S.I.: Canal Preto, 2020. (8 min.), son., color. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hTRuVRXLwz0  Acessado em 04 de novembro de 2022.

VEJA TAMBÉM:

Professor(a), para a complementação do processo de ensino-aprendizagem, você pode indicar a leitura do seguinte texto a seus estudantes:

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