DIÁSPORA AFRICANA

A palavra diáspora esteve primeiramente associada às passagens bíblicas do Antigo Testamento, tendo como significado o retorno dos judeus à terra prometida. Hoje em dia, é um termo utilizado para se referir aos fluxos de migração tanto de pessoas quanto de informação, comunicação e tecnologia, bem como entender a nossa própria sociedade e as suas produções artístico-culturais, principalmente no que diz respeito ao modo delas serem criadas, transformadas e ressignificadas em todo o planeta. 

Dentro dessa perspectiva, é possível desconstruir alguns estereótipos em relação ao Continente Africano e seus descendentes. O primeiro deles trata-se da ideia de África como um lugar colonizado pelos europeus onde a morte, a violência e a fome imperam. O segundo está relacionado às narrativas homogêneas sobre o espaço e seus diversos descendentes como uma diáspora involuntária e forçada, ou seja, a escravidão moderna, um período em que milhões de pessoas do continente foram levadas para diferentes partes do globo terrestre. 

É fato que no Novo Mundo, conhecido hoje como América, houve um encontro (forçado) entre europeus, nativos e africanos que produziu resultados como a violência e o extermínio de colonizados. Também é importante observar as consequências negativas desses processos sobre os descendentes dos grupos subalternizados, principalmente em termos de desigualdade social e negação de direitos. 

No entanto, a expressão Diáspora Africana pode oferecer uma diferente compreensão sobre estes eventos e os seus desdobramentos em nossa sociedade brasileira. Olhe o mapa a seguir e reflita sobre a diversidade de culturas que se (re)criaram a partir do deslocamento de seres humanos com suas línguas, religiões, danças, músicas e artes para diversas partes do mundo:

Nesse sentido, é importante refletir sobre comunidades afrodescendentes que são capazes de formar grupos populacionais numericamente semelhantes ou superiores aos países africanos, sendo este um dado que impacta diretamente no formato do estado nacional enquanto uma língua, um território e um único povo. Veja o caso do Brasil como exemplo:

VOCÊ SABIA?

Aproximadamente 5 milhões de africanos foram sequestrados e trazidos ao Brasil durante a escravização e tráfico. Hoje o Brasil é o segundo país do mundo que tem a maior população negra e descendente de africanos no mundo, sendo que o primeiro país é a Nigéria. Assim, se torna óbvio a contribuição e presença de África na constituição da sociedade brasileira

Em outras palavras, é possível  verificar que a construção das sociedades não se deu através da escravidão e da colonização, mas por meio da intelectualidade, ou seja, dos conhecimentos dos africanos e dos seus descendentes que promoveram processos de agência, criação, disputa e resistência em seus espaços. No Brasil, a expressão diáspora africana permite compreender o porquê de (re)ações coletivas (o Quilombo dos Palmares, a Revolta dos Malês, a Revolta da Balaiada, o Teatro Experimental do Negro e os Saraus Literários nas periferias das cidades) e de figuras emblemáticas  (Maria Firmina dos Reis, Esperança Garcia, Luís Gama, André Rebouças, Lima Barreto, Carolina Maria de Jesus, Abdias do Nascimento).

Portanto, em um mundo globalizado, a diáspora africana torna-se um conceito central para compreender as inúmeras mudanças sociais que não se limitam aos territórios nacionais. Enquanto um rizoma, ela continua se dispersando por diferentes espaços e dando resultados que ressignificam e negociam mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais.