ASTRONOMIA OU A CIÊNCIA PARA OUVIR ESTRELAS?

Olá! Vamos iniciar esse texto com a leitura do soneto Ora direis ouvir estrelas, de Olavo Bilac:

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo 

Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, 

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto

 

E conversamos toda a noite, enquanto 

A via-láctea, como um pálio aberto, 

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, 

Inda as procuro pelo céu deserto. 

 

Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?”

 

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Em termos de nossa história como humanos, desde muito cedo temos buscado, como poetizou Bilac, “ouvir estrelas”. Desde sempre consideramos que o céu teria muitas coisas a nos dizer. Em um primeiro momento, de uma forma mais mística, mais religiosa, menos sistematizada, mas não menos importante, achávamos também que nós teríamos muito a dizer sobre ele. Buscávamos saber como os eventos e os atores celestes influenciavam diretamente as nossas vidas e eis que surgiu a Astrologia. Ela seria a crença de que os assuntos humanos, a personalidade e o caráter das pessoas são determinados ou estão codificados pela posição dos planetas. Hoje a Astrologia não é considerada uma Ciência, no entanto, podemos certamente chamá-la de mãe de um campo de saber que quer compreender o céu: a Astronomia. 

A Astronomia é a ciência que estuda o mundo natural para além da Terra. Essa divisão, naquilo que diz respeito aos nomes, nem sempre foi bem definida. Antes do final do século XVIII, a maioria dos que hoje são chamados de astrônomos eram conhecidos como astrólogos ou apoiavam a astrologia. Dentre os mais conhecidos, temos: Ptolomeu, Regiomontanus, Apianus, Copérnico, Georg Rheticus, Tycho, Kepler e Galileu Galilei. 

Nesse sentido, é preciso tomar cuidado com as previsões rasas a respeito de aspectos específicos da nossa vida cotidiana, sobre as quais não há comprovações de eficácia, e credibilizar o quanto o conhecimento sobre o céu interfere no nosso dia a dia, por exemplo, quando se trata do uso de satélites artificiais e de navegações aéreas, terrestres ou marítimas. Portanto, o conhecimento dos céus influencia a nossa rotina diária para além das decisões mais específicas sobre o que vestir ou o que dizer. 

Voltando ao poema de Olavo Bilac, como iremos interpretar a expressão “ouvir estrelas”? A partir do desenvolvimento tecnológico que permitiu o avanço de muitos equipamentos, tais como os telescópios. Você já ouviu falar do SKA? SKA são as iniciais de “Square Kilometre Array” que traduzido significa “Matriz do Quilômetro Quadrado”. O SKA é o maior e mais potente telescópio do mundo. Estará instalado prioritariamente na região de Karoo, a oeste da África do Sul, mas também estará em outros oito países parceiros africanos – Botsuana, Gana, Quênia, Madagascar, Maurício, Moçambique, Namíbia e Zâmbia – além da Austrália e Nova Zelândia. 

Quando lemos a palavra telescópio, pensamos em um único equipamento, não é verdade? Pois é, mas no caso do SKA a ideia é bastante diferente. Trata-se da instalação de antenas em diversos pontos do planeta com a intenção de colher muitos dados. Serão 3 mil antenas de 15 metros de diâmetro, dispostas lado a lado, dentro de uma área de 1 milhão de metros quadrados. Todas estarão voltadas para o céu e com isso o SKA conseguirá detectar os sinais de um radar de aeroporto em um planeta a 50 anos-luz daqui. O telescópio conta com um computador 1 milhão de vezes mais potente do que os que a gente usa todos os dias. Você consegue imaginar essas dimensões?

Não é à toa que o SKA tem sido chamado de “os olhos e ouvidos da Terra” e, dessa maneira, “ouvir estrelas” hoje está certamente mais sofisticado e mais complexo. Todavia, a orientação de Bilac, “amai para entendê-las”, ainda vale. É preciso amar e acreditar no conhecimento como uma chave para começarmos a ouvir as estrelas, os planetas, o céu infinito e toda a natureza terrestre ao nosso redor. 

Voltando ao poema de Bilac: “que sentido” tem o que as estrelas podem nos falar? Você consegue identificar alguns equipamentos que utilizam referências do céu para funcionar? Algumas dicas são a navegação aérea, marítima e terrestre, a agricultura e as comunicações. Você já pensou em como o Google Maps funciona? 

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HIGGIT, Rebekah. Mais cuidado ao criticar os astrólogos? Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT214222-17774,00.html. Acesso em: 15 out. 2022.

KANITZ, Henrique; ORTIZ, Juan. 5 contribuições de pesquisadores africanos à ciência. 2020. Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/ciencia-da-africa/. Acesso em: 15 out. 2022.

MELLO, João. Maior telescópio do mundo ficará na África do Sul. Disponível em: Maior telescópio do mundo ficará na África do Sul. Acesso em: 15 out. 2022.

SKAO. Welcome to the SKAO. Disponível em: https://www.skao.int/. Acesso em: 15 out. 2022.