MULHERES NA CIÊNCIA

Competências específicas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas para o Ensino Médio

1 – Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir da pluralidade de procedimentos epistemológicos, científicos e tecnológicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente em relação a eles, considerando diferentes pontos de vista e tomando decisões baseadas em argumentos e fontes de natureza científica; 

5 – Identificar e combater as diversas formas de injustiça, preconceito e violência, adotando princípios éticos, democráticos, inclusivos e solidários, e respeitando os Direitos Humanos.

Competências específicas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias

  1. Investigar situações-problema e avaliar aplicações do conhecimento científico e tecnológico e suas implicações no mundo, utilizando procedimentos e linguagens próprios das Ciências da Natureza, para propor soluções que considerem demandas locais, regionais e/ou globais, e comunicar suas descobertas e conclusões a públicos variados, em diversos contextos e por meio de diferentes mídias e tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC).

Habilidades Ciências Humanas e Sociais Aplicadas para o Ensino médio

(EM13CHS101) Identificar, analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com vistas à compreensão de ideias filosóficas e de processos e eventos históricos, geográficos, políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais;

(EM13CHS502) Analisar situações da vida cotidiana, estilos de vida, valores, condutas etc., desnaturalizando e problematizando formas de desigualdade, preconceito, intolerância e discriminação, e identificar ações que promovam os Direitos Humanos, a solidariedade e o respeito às diferenças e às liberdades individuais.

Habilidade Ciências da Natureza e suas Tecnologias

(EM13CNT305) Investigar e discutir o uso indevido de conhecimentos das Ciências da Natureza na justificativa de processos de discriminação, segregação e privação de direitos individuais e coletivos, em diferentes contextos sociais e históricos, para promover a equidade e o respeito à diversidade.

Mulheres na Ciência

Como já evidenciado e debatido em outros textos da Percursos Alternativos, há um padrão vigente em nossa sociedade, o qual foi criado e baseado no homem cisgênero, hétero, branco, europeu. Esse padrão está presente nas diferentes áreas da nossa sociedade e a produção do conhecimento não escapa dele. A exemplo, destacam-se as inúmeras mulheres que tiveram seus legados escondidos nas sombras de homens, como o caso de Jocelyn Bell, que descobriu, em 1967, os pulsares, estrelas de nêutrons rotativas que parecem “pulsar”, quando ainda era estudante de doutorado. Essa descoberta rendeu um Prêmio Nobel ao seu orientador, Antony Hewish, e a Martin Ryle, um físico e astrofísico britânico.  Mesmo que a descoberta tenha sido feita por Jocelyn, seu orientador alegou que dar o Nobel a uma aluna de doutorado poderia desvalorizar o prêmio.

Atualmente, as mulheres já ocupam um espaço maior no meio científico e muitos avanços foram feitos neste aspecto. Entretanto, não podemos ignorar que esse avanço não é igual em todas as áreas da ciência e muito menos igual para todas as mulheres. Dados da Parent in Science nos mostram que as áreas de Computação e Tecnologias da Informação e Comunicação têm um baixo percentual de mulheres atuantes, apenas 13,6%. Quando falamos sobre a porcentagem relacionada à questão étnico-racial, deparamo-nos com um cenário muito desigual, em que 42,6% dos estudantes matriculados no ensino superior são brancos, 31,1% são pardos, 16,8% são não declarados, 1,7% são amarelos e apenas 0,7% são autodeclarados como indígenas.

Devido à disparidade de condições que as mulheres enfrentam para ingressar e permanecer no meio científico, devemos fomentar esse debate e incentivar nossas estudantes mulheres a se interessarem pela ciência, mostrando que esse também é espaço delas por direito, afinal, Ciência sem diversidade é apenas um ponto de vista.

Contextualização teórica

Historicamente, a divisão tradicional de funções segundo o gênero se apresenta como um dificultador do ingresso de mulheres nas profissões em geral e, principalmente, no meio científico. Segundo Londa Schienbinger (2001), existem conflitos que dificultam a permanência de mulheres na ciência, conflitos entre as responsabilidades domésticas e profissionais, entre relógio da carreira acadêmica e o relógio biológico.

Esses conflitos mostram como a ideia que se construiu, de que as mulheres estão reservadas a funções domésticas, impõe uma jornada dupla de trabalho às mulheres, fazendo com que elas tenham que se dedicar aos cuidados com a casa e ao trabalho. Isso faz com que as condições de trabalho entre cientistas homens e cientistas mulheres sejam extremamente desiguais. Nesse ínterim, a exclusão da mulher da vida pública e da vida científica é um fato, mas que, com o passar do tempo e o avanço das pautas do movimento feminista, mudanças sociais ocorreram e houve um aumento na inclusão das mulheres na ciência e na vida política. Entretanto, as mulheres encaram diariamente desafios inexistentes na vida dos homens.

Segundo Schienbinger (2001), o ingresso de mulheres no campo científico trouxe grandes transformações; mudanças, inclusive, na maneira como as relações entre gênero e ciência são analisadas. A adoção do corpo masculino como a medida de todas as coisas traz inúmeras consequências negativas para a ciência, que fazem, por exemplo, com que os processos mais básicos do organismo feminino sejam negligenciados. Um exemplo disso é a administração de tratamentos inadequados que eram feitos em mulheres, baseados na fisiologia do homem. 

Devemos evitar um olhar biologizante ao pensar sobre papéis de gênero nos estudos científicos, como, por exemplo, reproduzir a ideia de que existem “qualidades femininas de pesquisadora”. O que precisamos, portanto, é trabalhar na formação de jovens cientistas e no cotidiano da ciência uma consciência crítica de gênero, compreendendo como os papéis de gênero funcionam na sociedade e na ciência, buscando, dessa forma, amenizar as desigualdades geradas pela diferença de gênero.

Relevância em sala de aula

Os desafios enfrentados pelas mulheres que decidem investir na carreira de cientista não são poucos. Esses desafios estão relacionados à diferença salarial existente entre homens e mulheres, à dificuldade em conciliar a ciência e a maternidade e a outros inúmeros fatores. Mesmo com todas as dificuldades, as mulheres não desistiram da ciência e seguem, século após século, fazendo importantes descobertas para a humanidade. 

O acesso à educação ainda é um desafio para meninas e mulheres em diversas partes do mundo. Nessa esteira, a ONU estabeleceu o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 5, que determina metas de curto, médio e longo prazo, vislumbrando a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas. Desse modo, a escola tem um importante papel em mostrar para as suas estudantes que seguir uma carreira científica é uma possibilidade, assim como na conscientização dos jovens sobre as desigualdades de gênero existentes no nosso cotidiano.

Objetivos

  1. Conscientizar os estudantes sobre a importância de mulheres ocuparem espaços na ciência;
  2. Apresentar aos estudantes algumas dificuldades relacionadas a desigualdade de gênero que essas profissionais encontram para exercerem sua profissão.

Preparando as aulas

Professor(a), para conduzir a aula seguinte, é fundamental que você tenha domínio dos dados e da perspectiva histórica da atuação das mulheres no meio científico. Além disso, você deve se familiarizar com exemplos das dificuldades enfrentadas pelas mulheres no campo da produção de conhecimento, que sejam palpáveis para os estudantes. A seguir, há uma sugestão de abordagens para a condução do tema em duas aulas, sendo necessário ter computador e projetor para apresentar músicas e vídeos.

Introdução

  1. Pergunte aos/às estudantes quantas cientistas mulheres eles/as conhecem e faça um diálogo a partir dos dados e informações trazidos por eles/as;
    1. Exibição do vídeo.

Desenvolvimento

  1. Após o breve diálogo com a turma, a exiba o vídeo “Somos Todos Ciência – Meninas na Ciência”, produzido pelo SBPCnet e disponível neste link: < https://www.youtube.com/watch?v=yt1yWotx3T8 >. O vídeo tem uma duração de menos de 5 minutos e irá auxiliar na compreensão dos alunos acerca da importância da inserção das meninas, estudantes do ensino básico, em atividades científicas.

    Logo depois de exibir o vídeo, você pode apresentar dados sobre a atuação de mulheres na ciência brasileira atualmente. Tias informações podem ser encontradas no texto formativo “Elas na Ciência” (inserir link). Por meio de slides, você pode mostrar que as mulheres são, hoje, maioria dentro do grupo de pessoas com título de doutor no Brasil, mas que, apesar desse grande passo, devemos estar atento que a ciência ainda é um horizonte mais longínquo para as mulheres pretas e indígenas, por exemplo. Neste momento, você pode aproveitar para apresentar a história de cientistas mulheres que se destacaram por suas descobertas e ações.

    A seguir, algumas sugestões de nomes:

    •  Vanessa Romanelli: Assessora científica no Instituto Jô Clemente e realiza estudos no teste do pezinho, exame de triagem neonatal; é responsável por identificar doenças como a Atrofia Muscular Espinhal (AME) em bebês recém-nascidos. Vanessa é uma pessoa que usa cadeira de rodas, em decorrência da AME, descoberta ainda na infância. Você pode descobrir mais sobre a Vanessa e seu trabalho em sua conta no Instagram <https://instagram.com/ame.pesquisa?igshid=YmMyMTA2M2Y=> . 

    ara exercerem sua profissão.

Avaliação

Antes de encerrar a aula, solicite como atividade para casa, um levantamento sobre quantas cientistas mulheres são apresentadas nos livros didáticos utilizados pela turma. Divida a turma em grupos conforme as diferentes áreas do conhecimento, para que cada grupo possa realizar a pesquisa em um livro didático diferente.

    • Documentário “Meninas Negras na Ciência: Fortalecendo a diversidade” produzido pelo Museu da Vida/Fiocruz. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SUkNUmCOXp0. Acesso em: 10 abr. 2023.

     

    • KOVALESKI, Nádia Veronique Jourda; TORTATO, Cintia Souza Batista; DE CARVALHO, Marilia Gomes. As relações de gênero na história das ciências: a participação feminina no progresso científico e tecnológico (Gender relations in the istory of science: The women´s participation in the scientific and technological progress). Emancipação, v. 13, n. 3, p. 9–26, 2014. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/5047. Acesso em: 10 abr. 2023.

     

  1. Parent in Science. Mulheres e Maternidade no Ensino Superior no Brasil. Disponível em: https://www.parentinscience.com/files/ugd/0b341b6ac0cc4d05734b56b460c9770cc071fc.pdf. Acesso em 10 abr. 2023.  
  2.  

    Referências Bibliográficas

     

    Blog Portal Pós. Mulheres na ciência: importância, desafios enfrentados e como ingressar na área. 8, mar. 2022. Disponível: <https://blog.portalpos.com.br/mulheres-na-ciencia/>. Acesso em 30 mar. 2023.

     

    MOUZO, Jéssica. Mulheres cientistas escondidas pela História. El País, 18, nov 2017. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/11/15/ciencia/1510751564_040327.html>. Acessado em: 30 mar. 2023.

     

    SCHIEBINGER, Londa. O feminismo mudou a ciência? Bauru, SP: EDUSC, 2001.

     

    VILLON, Elsa. Conheça cientistas mulheres com deficiência. Instituto Paradigma. 11 Fev, 2022. Disponível em: <https://iparadigma.org.br/conheca-cientistas-mulheres-com-deficiencia/>. Acessado em: 31 mar. 2023.